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COC inaugura Espaço Adorcino Pereira da Silva

10 out/2014

O Espaço Adorcino Pereira da Silva foi inaugurado nesta quinta-feira, 9 de outubro, pela Casa de Oswaldo Cruz (COC), em homenagem ao artífice carinhosamente chamado de “Seu” Adorcino, cuja arte marcou sua trajetória na Oficina-Escola de Manguinhos, na Fiocruz. O descerramento da placa dando o nome do mestre ao lugar onde atuou até sua morte, em 2011, contou com a participação da neta do homenageado, Cristiane dos Santos Silva. “Ele estaria muito emocionado, assim como estou”, disse. “A Oficina-Escola de Manguinhos era a segunda casa dele. Meu avô nunca imaginou que fosse passar sua arte”, frisou Cristiane ao agradecer. O vice-diretor de Informação e Patrimônio Cultural da COC Marcos José de Araújo Pinheiro ressaltou a relevância do trabalho de “transmissão do conhecimento” de Mestre Adorcino. A chefe do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), Ana Maria Marques, disse que a atividade do artífice é “intrínseca à história do departamento” e que Mestre Adorcino estava sempre “tentando ajudar”.

Apresentações

A inauguração do Espaço foi antecedida pela mesa redonda “Saberes, práticas e formação na preservação do patrimônio cultural” como parte da programação acadêmica do curso de Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde, da COC. Coordenadora do Núcleo de Educação Patrimonial, Cristina Coelho falou sobre a ação de formação de artífices na Fiocruz e enalteceu a diversidade entre os alunos dos cursos realizados na Oficina Escola de Manguinhos, onde Mestre Adorcino atuou nos seus últimos seis anos de vida. Em 2011, o artífice morreu aos 84 anos, dos quais 25 dedicados à restauração do estuque ornamental na Fiocruz e ao ensino dessa técnica.

Marcos José Pinheiro, apresentou o projeto Mestres e Ofícios da Construção Tradicional Brasileira, por ele coordenado, e exibiu o documentário “Mestre Adorcino e o estuque ornamental”, produzido pela COC com apoio da Faperj e direção de Cristiana Grumbach.

Arquiteto e urbanista, Cyro Lyra participou do evento como convidado para abordar a importância do trabalho especializado e do treinamento de profissionais na restauração de construções antigas. Ex-arquiteto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Lyra destacou duas intervenções que coordenou: a Catedral de Valença e o Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, no município fluminense de Rio Claro, na região do Vale do Paraíba. Segundo ele, as duas obras são exemplos da importância do treinamento.

Ressaltando ser uma ação multidisciplinar – “o arquiteto é um ator em um grupo”, lembrou –, Cyro Lyra disse que a restauração adequada deve seguir cinco critérios: embasamento (conhecimento das técnicas e dos materiais), a compatibilidade (na inserção de materiais), a reversibilidade (possibilidade de retornar ao estado anterior), a qualidade (garantia de durabilidade) e a previsibilidade (conservação e manutenção permanente). 

O arquiteto projetou a recuperação da Catedral de Nossa Senhora da Glória (a Catedral de Valença), que incluiu intervenções estruturais. Havia “uma série de fissuras”, contou, acrescentando que a igreja foi construída em uma colina. A passagem de água sob a construção provocou um “descalçamento”, e houve um corte no entorno para a criação de uma praça.

A obra começou com o reforço do solo e uso de taipa de pilão, uma técnica antiga usada na cultura árabe e muito utilizada na arquitetura colonial brasileira. Feita em etapas, a técnica se constitui de paredes feitas de barro amassado e calcado, por vezes misturado à cal e comprimida entre taipas de madeira desmontáveis. Elas são removidas depois de secas, formando uma parede de um material incombustível e isotérmico natural e barato. A “técnica antiga aperfeiçoada”, explicou, é um exemplo da compatibilidade.

Para recuperar o telhado da igreja, foi preciso treinar o pessoal, que era “todo de Valença”, observou Lyra. Já o beiral da coberta da capela do Santíssimo “tem muitos detalhes”, com cortes na telha formando uma espécie de bico. Segundo ele, uma característica encontrada apenas no Rio de Janeiro. A técnica é regional, dando ao beiral um aspecto “elegante”, elogiou.

O treinamento dos trabalhadores foi observado também no Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. O local que abriga a antiga cidade, demolida na década de 1940, participa de programa educacional sendo visitado por estudantes de escolas de Piraí e de Volta Redonda. Neste caso, houve a remoção do entulho para “mostrar o que tinha ali”, ressaltou o arquiteto.

Foi usada a anastilose, que consiste em “remontar o elemento que foi desmontado”, ensinou. Um casarão encontrado nas escavações teve parte de sua construção recuperada por meio da técnica. De acordo com Cyro Lyra, foram reerguidos e remontados três trechos de parede da fachada da construção. O projeto incluiu uma oficina de consolidação (treinamento), dirigida aos três pedreiros e aos ajudantes da obra.