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Brasil lidera espaços de museus e centros de ciência na América Latina, revela seminário da RedPop na Fiocruz

19 set/2014

 Mesa de abertura no evento da RedePop
Diego Vaz Bevilaqua, chefe do Museu da Vida, defendeu uma experiência mais
completa do visitante. Foto: Roberto Jesus Oscar

Há muito tempo o centro dos museus não está mais nas coleções, e sim no público”. A afirmação foi feita pelo chefe do Museu da Vida durante o seminário “Divulgação científica e museus de ciência: o olhar do visitante”. Trata-se de “um ambiente de memória cultural”, destacou Diego Vaz Bevilaqua, para quem é possível oferecer ao visitante de museu uma “experiência mais completa como espaço de lazer, de fruição, de experimentação e descoberta”. Durante o seminário na Fiocruz, Luisa Massarani, diretora da RedPOP (Red de Popularización de la Ciencia y la Tecnología de América Latina y Caribe), revelou que o Brasil possui 260 dos 490 museus e centros de ciência na região. A constatação está no inédito Guia de Museus de Ciência da América Latina, a ser lançado pela entidade.

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Universidade de Oregon apresenta estudo de caso que utiliza alta tecnologia em experiência interativa, durante o seminário. 

À frente da RedPOP desde janeiro, Luisa lembrou que a instituição foi criada há 24 anos, no Rio de Janeiro, no âmbito da Unesco. Ela ressaltou o fortalecimento estrutural e político da rede para os interesses comuns na área da divulgação científica no contexto da América Latina. Por isso, a importância de associar-se à entidade, ressaltou a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz.

Luisa Massarani adiantou mudanças na imagem da rede. Anunciou a escolha do novo logo, a partir de concurso entre os membros da RedPOP, cujo site também deverá mudar, e o mapeamento das políticas de divulgação científica na região, proposto por Ernesto Fernández Polcuch, da Unesco.

Embora tenha sido registrado o crescimento da divulgação científica e dos centros de ciências no Brasil e em outros países da região nos últimos dez anos, há poucos estudos em torno do que isso significa sob o ponto de visto dos públicos. Esse foi um dos motivos para organizar o evento, explicou a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz.

No seminário, foram apresentadas experiências em centros e museus de ciência na Argentina, Chile, Colômbia, nos Estados Unidos (Universidade do Oregon), na Grã-Bretanha e no México, entre outros.

Paulo Elian, diretor da COC, na mesa ao lado de Ernesto Polcuch, Luisa Massarani e Ernesto Polcuch, da esquerda para a direita. 
Paulo Elian falou da importância da pequisa e da reflexão, observado por (da esq.
para a dir.) Polcuch, Luisa e Diego. Foto: Roberto Jesus Oscar

Na avaliação do representante da Unesco Ernesto Fernández Polcuch, o seminário indica a importância de apoiar a rede para “estabelecer uma comunidade de prática e reflexão na América Latina, e compartilhar as experiências sobre o tema”. Em novembro, haverá um congresso promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), na Argentina, sobre ciência, tecnologia e educação. Segundo ele, será uma boa ocasião para abordar as experiências discutidas no seminário.

O diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC) defendeu a ampliação do tema da divulgação científica e da popularização da ciência. Paulo Elian disse que o organismo das Nações Unidas tem um papel importante para a memória, informação e o patrimônio cultural. Acrescentou que a participação no evento aporta à RedPOP uma qualidade do que a Unesco representa. “Tratar da questão dos públicos ou do olhar do visitante é o que dá sentido ao que fazemos. Nós concebemos, colocamos em marcha o funcionamento de museus de ciência nas mais diversas modalidades, para dialogar e tratar a questão da ciência com a sociedade”, enfatizou. Por isso, “pensar, discutir o tema e tratá-lo sob o ponto de vista da pesquisa e da reflexão é muito importante”, concluiu Paulo Elian.

Floresta dos Sentidos é iniciativa do projeto “Ciência para pequenos curiosos”

A física Rosicler Neves, do Museu da Vida, apresentou estudo realizado com o público da exposição Floresta dos Sentidos, montada em 2013 e dirigida ao público infantil. A atividade contou com a colaboração da UFRJ e apoio da Faperj, como parte do projeto “Ciência para pequenos curiosos”. De baixo custo e sem grande aparato na montagem, a mostra Floresta dos Sentidos trata da biodiversidade brasileira, compondo-se de diversos materiais, incluindo um jogo em computador. Na atividade, a criança é estimulada a observar e investigar o cenário de uma floresta por meio de pistas. A proposta era saber qual o impacto sob a ponto de vista da criança, tendo ela como protagonista.

O trabalho usou desenhos – levados para a escola – e gerou dados sobre a reação, etapas da mostra e dos grupos de visitantes. Como resultados, foram constatados temas como autorrepresentação, a interação da criança, a representação de elementos da exposição, de pessoas e de emoções dos pequenos.

Yurij Castelfranchi, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais
Público faz montagens de acordo com seu conhecimento, disse o pesquisador da 
UFMG, Yurij CastelFranchi. Foto: Vinícius Pequeno

De acordo com Rosicler, é possível inferir que existem memórias da visita e são de diferentes níveis, o que permite entender as audiências em um espaço de aprendizagem não-formal. O desafio é ir além, com uso de outras tecnologias, ressaltou.

Outra experiência trazida ao evento foi apresentada pelo pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais Yurij Castelfranchi. Ele desenvolve conceitos de recombinação, no Espaço do Conhecimento da UFMG. De acordo com Yurij, chamado também de “gambiarra”, termo popular brasileiro, o processo acrescenta conhecimentos, experiências e informações acumuladas, incluindo valores morais, religiosos e outros.  As pessoas fazem isso para “resolver problemas e alcançar seus objetivos”, explicou o professor. O público não vai ao museu apenas para “receber informações”, mas também para “fazer montagens” com base em seu próprio conhecimento, concluiu o pesquisador da UFMG.

Importância de avaliações é ressaltada no seminário

O que interessa a quem visita os museus? O que fazer para aumentar esse contingente? Como tornar única a experiência do visitante? Essas foram algumas questões que permearam as apresentações dos representantes do Museu de História Natural de Londres, Reino Unido; Museu da Vida; Museu Interativo Mirador do Chile, e o Parque Explora da Colômbia no segundo e último dia do evento. A importância das avaliações como ferramentas para se conhecer desejos, objetivos, intenções e assimilação dos visitantes foi o ponto de convergência dos discursos.

Com mais de cinco milhões de visitantes por ano – metade deles vindos de fora do Reino Unido –, o Museu de História Natural utiliza pesquisas para entender o aprendizado do visitante, que segundo explicou Emma Pegran, coordenadora da Galeria de Aprendizagem do Museu de História Natural de Londres, “implica em mudança de atitude, valores e comportamentos, além do desenvolvimento de novas competências e não só na obtenção de conhecimento”.

Emma Pegran, coordenadora da Galeria de Aprendizagem do Museu de História Natural do Reino Unido
Emma Pegran afirmou que conhecimento implica mudança, ao lado da diretora do
Museu Mirador do Chile, Luz Lindegaard. Foto: Roberto Jesus Oscar

Emma revelou que o objetivo principal das avaliações é dar subsídios para que o museu se posicione como centro de excelência de aprendizado. “As pesquisas realizadas junto ao público nos fornecem um panorama ampliado da realidade”. Ela também destacou a importância da formação de redes e do estabelecimento de parcerias. Como exemplo, destacou a realização de seis seminários em conjunto com o King’s College of London, para, entre outros objetivos, desenvolver uma agenda de pesquisa de aprendizagem customizada.

Vanessa Guimarães, do Museu da Vida, apresentou um estudo de caso sobre as avaliações obtidas com o público participante da exposição itinerante “Nós do Mundo”, que utiliza módulos interativos e diferentes mídias para provocar a reflexão sobre problemas atuais, principalmente em relação ao ambiente. Além de avaliar itens básicos como estética, mediação, conforto, qualidade, a pesquisa teve a finalidade de fazer um retrato do que permanece na mente do visitante.

O estudo analisou 1.750 mensagens, que foram agrupadas em três ideias centrais: “desejos”, “questões ambientais” e “ações”, posicionadas respectivamente do nível mais emocional, utilizando expressões do senso comum, até um nível mais consciente e reflexivo sobre o tema. “Tais análises são importantes para conhecer nosso visitante, seus interesses e como podemos oferecer-lhe algo que produza significado”, frisou Vanessa.

Para Luz Lindegaard, o mais importante é “aprender com o visitante”. Para isso, o Serviço de Visitantes do Museu Interativo Mirador do Chile, do qual ela é diretora de Educação, aplica questionários em diferentes épocas do ano. Segundo a diretora, das nove mil respostas já obtidas, foi possível observar aspectos relevantes. “Chama atenção a maturidade do público, por exemplo, que mesmo nos avaliando positivamente, também percebe e indica problemas, como a nossa pouca capacidade para renovar as ofertas”, pontuou.

Vanessa Guimarães do Museu da Vida
Vanessa Guimarães apresentou um estudo de caso a partir da exposição itinerante
“Nós do Mundo”. Foto: Roberto Jesus Oscar

A partir dos questionários, já aplicamos medidas como o estabelecimento de estratégias de fidelização, aumento das parcerias com universidades, a renovação das ofertas de quatro em quatro meses para os escolares. A diretora de Educação reforçou a importância do diálogo entre a instituição e os visitantes: “Nosso público tem muito a dizer. Para nós, é fundamental escutá-los e aproveitar para evoluir no sentido e no ritmo que ele demanda”.

Claudia Aguirre, diretora de Educação e Conteúdo do Parque Explora, na Colômbia, destacou a importância de criar, de reinventar: “Nessa nova forma de fazer museu, erramos muito, mas aprendemos bastante com esses erros”. Ela defendeu uma política de avaliação com objetivos, alcances e premissas bem definidos e disposta a realizar mudanças de acordo com as opiniões dos usuários.