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Tese do programa de pós-graduação da COC ganha menção honrosa do Prêmio Capes

28 nov/2012

Autor de A trajetória de Henrique da RochaLima e as relações Brasil-Alemanha (1901-1956), André Felipe Cândido da Silva deve ir a Brasília com seus orientadores Magali Romero Sá e Jaime Benchimol, no dia 13 de dezembro, participar da cerimônia de premiação no edifício-sede da Capes. Na seleção, são considerados os quesitos originalidade, inovação e qualidade. A tese é uma análise da atuação do microbiologista e patologista brasileiro Henrique da Rocha Lima, um dos pesquisadores da primeira geração do Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos.

 

André Felipe Cândido da Silva conta que, em 1909, Rocha Lima decidiu que iria fazer pesquisas na Alemanha, o que provocou sua ruptura com Oswaldo Cruz: “Lá, no Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, ele desenvolveu seus mais importantes estudos nos campos da anatomia patológica, microbiologia e medicina tropical: descreveu as lesões do fígado, mais tarde consideradas típicas da febre amarela, assim como o quadro histopatológico da Verruga Peruana ou doença de Carrión e das chamadas blastomicoses”.

 

Para André Felipe Cândido, “a contribuição mais importante” de Rocha Lima foi “identificar o agente do tifo exantemático durante a Primeira Guerra e, depois, chegar à caracterização de uma nova categoria de microrganismos, as riquétsias”. De volta ao Brasil em 1927, o microbiologista trabalhou no Instituto Biológico que Arthur Neiva criava em São Paulo naquele ano, primeiro como diretor da divisão animal, e de 1933 a 1949, como diretor geral.

 

“O foco da tese foi o papel de Rocha Lima no incentivo às relações científicas
Brasil-Alemanha, principalmente nos anos 1920, quando a política externa daquele país era limitada pelas cláusulas de Versalhes e passou a investir intensamente no terreno da diplomacia cultural”, ressalta o autor da tese. André Felipe também lembra que “muito embora já estivesse no Brasil, Rocha Lima manteve suas relações com a Alemanha nazista”. Em suas cartas, o pesquisador manifestava “simpatia pelo regime de Hitler, ao mesmo tempo em que foi favorável à vinda de pesquisadores judeus para o Brasil”.

 

André, ao centro, com Magali  e Jaime em Berlim, em 2010.

André, ao centro, com Magali
e Jaime em Berlim, em 2010.

Em 1938, em viagem à Alemanha, Rocha Lima foi condecorado com a Ordem da Águia Alemã, prêmio que o governo nazista concedia aos estrangeiros considerados importantes para o Terceiro Reich.

 

“Acompanhando essa trajetória”, diz André Felipe Cândido, “foi possível observar a importância das relações Brasil-Alemanha para a ciência praticada nos dois países, as relações entre ciência e política em diferentes formações sociais, especialmente durante regimes autoritários, e as contradições de um indivíduo que procurou promover sua carreira não só na pesquisa de laboratório, mas também na cooperação com diplomatas, no incentivo ao intercâmbio acadêmico e na organização de instituições e agremiações científicas”.

 

Segundo André Felipe, “apesar da multifacetada trajetória de Rocha Lima, não havia qualquer trabalho de cunho historiográfico sobre ele quando decidi fazer o doutorado”. O autor teve acesso ao acervo pessoal de Rocha Lima, sob a guarda do Centro de Memória do Instituto Biológico, e de outras instituições, no Brasil e Alemanha. A dissertação de mestrado ele fez na COC, sob orientação do Jaime Benchimol. “Pela minha formação em história e biologia, a Casa foi o lugar ideal para dedicar-me a pesquisas que associavam os dois campos. Sem o apoio de Magali, Jaime e dos amigos, não teria podido enfrentar desafios, como o de ter de aprender alemão para decifrar as fontes e o de refazer o percurso de Rocha Lima, cem anos depois.”

 

O autor da tese diz acreditar que este estudo sobre Rocha Lima “contribui para elucidar aspectos relativos às ciências no Brasil e Alemanha, não apenas no campo da saúde pública, mas também da agricultura e veterinária, em que o microbiologista trabalhou durante quase vinte anos como diretor do Instituto Biológico. “Trabalhos de cunho biográfico, focados em trajetórias individuais, enriquecem nossa compreensão do passado, trazendo à cena as contradições e impasses do indivíduo e as brechas do sistema social.”

 

Atualmente, André Felipe Cândido faz seu pós-doc no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com pesquisa financiada pela Fapesp sobre as relações científicas Brasil-Alemanha entre 1919 e 1945. “A partir da pesquisa sobre Rocha Lima, foi possível notar uma série de outros personagens e instituições que deram suporte a essas relações, em que São Paulo foi um cenário importante”, destaca, lembrando ainda que “não por acaso, foi ali a sede do Partido Nazista no Brasil”.

 

Ele continua a pesquisar o impacto dessas relações no cenário científico, político e social do Brasil e Alemanha e as agendas de pesquisa daí resultantes. “Um ponto que está assumindo dimensão crescente nas pesquisas de pós-doutorado é o que se refere aos cientistas alemães de origem judia que emigraram para o Brasil fugindo da perseguição nazista.“