O Inventário do fundo Carlos Chagas, publicado pela Casa de Oswaldo Cruz em 2009, ano das comemorações pelo centenário da descoberta da doença de Chagas, pode agora ser consultado na base Arch, onde está disponível a descrição arquivística completa deste conjunto documental.
Com 3,4 metros de documentos textuais, além de 250 fotografias, o fundo Carlos Chagas foi registrado em 2008 como patrimônio documental da humanidade pelo Comitê Nacional do Programa Memória do Mundo, e em 2009 foi indicado pelo Comitê Regional para América Latina e Caribe do mesmo programa, como candidato à nominação internacional.
Ao acessar a base, o usuário encontrará os documentos organizados em sete grupos, sendo eles: vida pessoal; formação acadêmica; administração da carreira; docência; pesquisa; gestão de Ciência e Saúde Pública; e relações interinstitucionais e intergrupos.
Na imagem, fotografia do ano de 1914 de Carlos Chagas e seu fliho caçula, Carlos Chagas Filho, disponível na Base Arch.
Mais sobre Carlos Chagas
Nasceu em 9 de julho de 1878, numa fazenda próxima à cidade de Oliveira (MG), filho de José Justiniano Chagas e Mariana Candida Ribeiro de Castro Chagas. Em 1897 ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1903. Sua tese de doutoramento para conclusão do curso médico, abordando os aspectos hematológicos da malária, foi desenvolvida no Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900 e denominado, a partir de 1908, Instituto Oswaldo Cruz (IOC).
Coordenou a profilaxia da malária em Xerém (RJ), onde a Inspetoria Geral de Obras Públicas realizava a captação de águas para a capital federal. Constatando que a transmissão da doença ocorria fundamentalmente no interior dos domicílios, defendeu que os mosquitos deveriam ser combatidos preferencialmente mediante aplicação de substâncias inseticidas, como o piretro, nesses ambientes. A teoria da infecção domiciliária da malária e o método profilático a ela associado seriam reconhecidos como importantes contribuições à malariologia.
Em junho de 1907 foi designado para combater uma epidemia de malária que afetava as obras de extensão da Estrada de Ferro Central do Brasil, entre Corinto e Pirapora (MG). No povoado de São Gonçalo das Tabocas – que, em 1908, com a inauguração da ferrovia, ganhou o nome de Lassance – improvisou um laboratório num vagão de trem. Por intermédio do chefe dos engenheiros, Cornélio Cantarino Motta, tomou conhecimento da existência de um inseto hematófago comum na região, que proliferava nas frestas das paredes das casas de pau a pique, popularmente conhecido como barbeiro. Examinando-lhes o intestino, identificou uma nova espécie de tripanossoma, que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz.
No dia 14 de abril de 1909, em Lassance, identificou o novo parasito no sangue de uma criança febril de dois anos, chamada Berenice, que seria então considerada o primeiro caso de uma nova tripanossomíase humana, a tripanossomíase americana ou doença de Chagas. A descoberta e os estudos sobre a nova doença trouxeram grande prestígio ao cientista, que se tornou membro de importantes associações médicas e científicas no Brasil e no exterior, e ao IOC, a cuja equipe ele se integrara como pesquisador em março de 1908. Por duas vezes foi indicado ao prêmio Nobel, para os anos de 1913 e 1921.
Foi uma das lideranças do movimento sanitarista que, entre 1916 e 1920, reuniu médicos, cientistas e intelectuais em torno da ideia de que o atraso do país era fruto das endemias que assolavam seu interior, e que, portanto, o combate a tais enfermidades deveria ser prioridade do Estado. Em fevereiro de 1917, por ocasião da morte de Oswaldo Cruz, assumiu a direção do IOC, cargo que ocuparia até o final de sua vida.