Manaus, a capital do estado onde os índices de câncer de colo de útero são os mais altos do país, sediou, na semana passada, um seminário dedicado a discutir a trajetória, os avanços e os desafios impostos pelo controle deste tipo da doença, bem como do câncer de mama. Além das palestras e debates, quem foi na semana passada até o Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane conferiu os painéis de uma exposição educativa e participou do lançamento do livro O câncer no Brasil: passado e presente. “O encontro superou expectativas, com a presença de cerca de 100 profissionais envolvidos nas várias frentes de combate à doença”, avalia o historiador Luiz Antonio Teixeira, pesquisador da Casa. Ele e Marco Antonio Porto, professor da Universidade Federal Fluminense, no momento trabalhando na Casa de Oswaldo Cruz, foram os organizadores do evento, uma realização conjunta do Instituto Nacional do Câncer e da Fundação Oswaldo Cruz.
Durante o Seminário, profissionais e gestores da saúde, pesquisadores, militantes de ONGs, além de pessoal das áreas técnicas de controle do câncer dos sete estados da região Norte tiveram a oportunidade de debater vários aspectos que envolvem sua atuação. O historiador Luiz Teixeira e o médico Marco Porto, que integram a equipe do projeto ‘História do Câncer – atores, cenários e políticas públicas’, uma parceria entre a Casa de Oswaldo Cruz e o Instituto Nacional de Câncer, destacam a importância de se realizar o seminário na sede da Fiocruz em Manaus.
Um dos paineis da exposição montada durante o seminário em Manaus |
Luiz Teixeira explica que “a ideia é divulgar formas de controlar o câncer, mostrando a seqüência de ações empreendidas no país numa perspectiva histórica”. O objetivo é ampliar o número de pessoas que busque a prevenção e o tratamento, incluídos no Plano de Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer, do Ministério da Saúde.
Marco Porto ressalta que “esta é mais uma tentativa de fortalecer a integração entre os setores voltados para as ações que visam detectar precocemente a doença, bem como compartilhar experiências e dificuldades ao implementar ações para o seu controle”. Ele lembra que a região Norte “lidera o número de casos de câncer de colo de útero, muito em função da dificuldade de acesso dos moradores de povoados distantes aos centros de saúde”.
Porto ainda chama atenção para outro problema, “a falta de conscientização sobre a importância do exame preventivo”. A estimativa é de que em 2012 surjam 17.540 casos novos no Brasil, com o maior número atingindo a população da região Norte.
O seminário ”O controle dos cânceres de colo do útero e de mama no Brasil: trajetória, avanços e desafios” faz parte do conjunto de ações da Fiocruz e de outros órgãos do Ministério da Saúde que visam produzir e dar acesso a informações e conhecimentos em saúde, ampliar as pesquisas no campo das doenças crônico-degenerativas e negligenciadas e trabalhar pela defesa e pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde.
Luiz Antônio Teixeira (de terno escuro) e Marco Porto autografam O câncer no Brasil: passado e presente |
Os organizadores do encontro são também autores do livro O câncer no Brasil: passado e presente (Outras Letras, 2012), uma edição ilustrada, de escrita simples, que visa ampliar o interesse de leitores leigos. A primeira parte do livro retrata como a sociedade brasileira vem encarando a doença desde o final do século 19 e analisa as políticas, instituições e os atores envolvidos em seu controle. Na segunda parte, os autores avaliam a situação atual, mostram quais os principais tipos de câncer existentes no Brasil, analisam as políticas públicas, os programas e as ações que visam o controle da doença, bem como a prevenção, a detecção precoce e o tratamento.
Na introdução, os autores destacam que reuniram na mesma obra “uma abordagem histórica do câncer e sua análise na perspectiva da saúde pública”, com o objetivo de passar adiante “o conhecimento sobre a história das ações contra a doença”. Eles pretendem ainda apresentar “conhecimento útil aos profissionais de saúde, em especial os gestores de políticas e programas desta área”. Luiz Antonio Teixeira, Marco Antonio Porto e Cláudio Pompeiano Noronha fazem uma breve síntese sobre como a percepção da doença evoluiu.
Eles dizem que, para os médicos, nas primeiras décadas do século 20, “o câncer era transmissível, tal qual a lepra e a tuberculose”. Por volta de 1950, já haviam descartado essa ideia. Para os responsáveis pelas políticas de saúde daquele período, tratava-se de “problema em expansão”, mas seu controle deveria se restringir à “medicina curativa de base hospitalar” e à “propaganda sanitária”. Na década de 1970 o câncer começou a ser enfrentado como “tema de saúde pública, que não poderia estar restrito aos esforços terapêuticos”. Hoje, “a doença está no centro dos debates” e “a promoção de hábitos saudáveis e de ações de prevenção se tornaram a base para seu controle.”
Apesar dessas mudanças, os autores alertam para a persistência das dificuldades. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, a doença representa a segunda causa de morte da população brasileira, e a estimativa para o ano de 2012 é de que ocorram mais de 500 mil casos novos no país.